Sobre Lobos.

 


Dor. 

Tento correr mas a neve me faz cair várias vezes e por mais que eu me afastasse ainda consigo escutar aquela coisa.

Me apoio nas árvores apertando a ferida que ele me fez, meu sangue quente é um contraste estranho com o frio da noite.

Paro ao ouvir mais um grito, tento me concentrar em sair dali mas os gritos acompanhavam rosnados e uivos. Em pânico tento correr mais rápido mas acabo caindo e machucando minhas pernas, ouço galhos se quebrando envolta de mim enquanto me arrasto na neve.

É como se ele quisesse que eu soubesse que ele está me seguindo.

Me caçando.

Minha ferida dói, mas não paro, continuo me arrastando enquanto ele me segue de longe. Seus uivos são como risadas que ele da para caçoar de mim.

Como se ele me dissesse que eu podia correr, me arrastar mas ele ainda me pegaria.

Me mataria.

Com lágrimas nos olhos continuo me arrastando, sinto a dor das minhas unhas se quebrando, continuo segurando meu estômago rezando para conseguir sair dali. Já podia ver um pedaço da estrada, só tinha que alcançar a rua, mas os barulhos em volta de mim aumentam. 

Ele está por perto. 

Sem pensar muito solto a ferida e me arrasto com minhas duas mãos. Em desespero tento chegar a auto estrada choro sentindo que ele está cada vez mais perto.

Grito ao senti-lo ao meu lado, ele rosna me fazendo sentir seu hálito quente em meu ouvido, com o canto do olho vejo seu pelo branco manchado com o sangue de algum dos meus amigos.

“Não não não” sussurro entre o desespero e as lágrimas, me viro tentando me afastar dele. 

O lobo branco caminha envolta de mim como se tivesse plena consciência do meu medo. 

Desisto de tentar fugir. 

Deito na neve sentindo meu corpo cada vez mas fraco, mas não vou gritar, me forço a parar de chorar e observo ele se aproximar.

Não vou gritar.

Não vou dar a ele esse gostinho. Aquilo não é um animal normal, nenhum lobo faria o que ele fez.

Ele me observa atentamente enquanto se aproxima de mim, fecho meus olhos esperando a morte.

Ele rosna me ameaçando bem perto do meu rosto, sinto seu calor, o seu cheiro misturado com sangue.

Mas não grito. 

Minhas lágrimas escorrem silenciosas enquanto permaneço de olhos fechados.

Sinto ele se afastar, por um momento penso que ele vai me deixar ali, abro meus olhos e percebo os outros lobos envolta de nós.

Um bando de criaturas estranhas paradas esperando.

Penso em tentar me arrastar para longe mas sei que é inútil.

Sem que eu perceba o lobo branco voltou para perto de mim e a única coisa que sinto antes de desmaiar é dor.

Ele começou a me devorar.


Confusão.

Meu corpo inteiro dói.

Estou deitado na neve sentindo pequenos flocos caírem sobre mim. Os barulhos da mata me causam dores de cabeça, os cheiros ao meu redor ânsia de vômito.

O que aconteceu ontem?

Tento rir da minha situação, mas pequenos fragmentos do que me aconteceu me fazem levantar rapidamente.

Grito de dor, tudo em mim está sensível, minha pele sente cada toque, a neve fria, o calor do sol. Percebo que estou pelado em meio a mata.

Confuso tento caminhar em direção ao barulho dos carros mas caio.

Minhas pernas estão bombas, me olhando percebo que não tenho mais a cicatriz de uma antiga cirurgia no joelho.

Que porra?! 

Ainda confuso me levanto novamente e devagar caminho em direção ao barulho. Sinto a neve em meu corpo, meus pés estão vermelhos por causa da baixa temperatura mas não estou com frio. Na verdade isso nem me incomoda.

Chamo pelos outros, mas tudo o que ouço são sons de bichos e pássaros. Caminho tentando assimilar o que me está acontecendo, olho em volta tentando ver onde deixei minhas roupas, tento pelo menos achar meus sapatos.

Percebo pela primeira vez um gosto estranho em minha boca.

Ferroso. 

Metálico.

Me assusto ao ouvir algumas risadas em volta de mim.

Chamo por quem quer que seja correndo em direção ao som.

Vejo a barraca de um dos meus amigos, Tom. Sorrindo chamo seu nome mas paro assustado ao ver o estado do que restou do nosso acampamento.

Paralisado, vejo sangue e destruição por todo lado.

Ainda saia fumaça da fogueira que fizemos a noite.

Meu estômago dói e ali mesmo vômito.

A cabeça de Tom ainda está em sua barraca.

Corro para longe, tentando entender, negando as minhas memórias, negando o que aconteceu.

Negando o que eu fiz.

Caio chorando na neve sem perceber que ela está se aproximando de mim.

Ela coloca suas mãos frias em meu rosto e me faz olhar para ela.

Albina. 

Com cabelos bagunçados e um vestido rasgado ela me sorria com um olhar doentio. Seus lábios pintados de vermelho borrados me lembra o lobo branco sujo de sangue. Compreendendo o que aconteceu, entro em desespero.

É tudo real.

Minha dor.

A fome que senti.

O amigo que devorei.

Ela ri alto vendo em meus olhos que eu sei.

Que me lembrei.

Sorrindo ela me diz: “seja bem vindo a matilha”.


Transformação. 

A lua me ilumina enquanto sinto as primeiras dores da mudança. Continuo tentando correr mata adentro mas a dor me faz cair na terra úmida. 

Ouço os outros gritando a medida que a mudança deles começa. O barulho da pele rasgando, dos ossos se quebrando fazem eu me arrastar para longe daquilo. Meus olhos ardem e meu corpo inteiro dói a medida que a fera dentro de mim clama por liberdade.

Grito tentando mantê-la quieta e ouço alguns uivos e rosados envolta de mim, mas eles não se aproximam. Só ficam ali, esperando.

Grito à medida que meus ossos se quebram e meu corpo se expande, aos poucos mudo de forma.

Lentamente minhas unhas caem e garras crescem no lugar. Cuspo sangue e dentes e as presas crescem com a minha dor. Meu grito já não parece humano, envolta de mim, os outros uivam em expectativa. Com as garras arranco o que sobrou de minha pele deixando um pelo negro no lugar.

Aos poucos a fera emerge de dentro de mim, os cheiros da mata me atinge a medida que minha mudança acontece. E com um último grito de dor me abandono a transformação.

A fera toma conta de mim e meus irmãos comemoram.


Consequência.

Posso sentir cada pedacinho de sua pele agora, suas texturas, as pequenas cicatrizes que ela tem.

A fera dentro de mim me faz sentir tudo em dobro, os beijos, os toques, o prazer. Perco meu autocontrole deixando as emoções da besta tomarem conta de mim e mergulho em uma mistura de emoções sem me dar conta do que faço.

Deixo a fera no controle.

E pela primeira vez em meses me sinto livre.

Acordo em um mar de sangue. Em pânico tento sair da cama mas caio ao me enrolar nas cobertas. Sufoco um grito de pânico ao ver o que sobrou da moça que conheci no bar ontem.

Vejo seu sangue seco nas cobertas ao meu redor, pedaços dela estão por toda cama. 

Estão sobre mim.

Em minha boca o gosto de sua carne me faz vomitar. 

“Você tem que se acalmar” 

Olho para um dos caras da matilha, Marcos, ele nunca falou comigo e nem me ajudou com nada até hoje então ela deve ter mandado ele me seguir dessa vez. Ela sabe o que eu fiz. Provavelmente está rindo de mim em algum lugar aqui perto esperando para me ver em pânico, sofrendo.

Seguro a vontade de vomitar novamente, o quarto cheira a morte, suor e vômito, encosto na parede observando aquele cara sentado no sofá, como se não tivesse um corpo despedaçado na cama.

“Ela mandou você aqui?”

“Não” ele e responde meio desconfortável “mas alguém vai aparecer para limpar a 

bagunça” 

Claro que vai, ela sempre sabe de tudo.

Olho de novo pro que restou dela, ainda consigo lembrar do seu sorriso, de como ela era bonita. Chorando sussurro que não sabia que isso iria acontecer.

Sussurro pedidos de perdão.

“Não foi sua culpa” se levantando do sofá Marcus senta ao meu lado “Você ainda é jovem, dominar seus instintos em situações como essa e uma das coisas mais difíceis para pessoas como a gente” 

“Eu não sabia” limpo minhas lágrimas “ela não me contou que isso ia acontecer, eu nunca teria feito isso se...” não consigo terminar a frase. O prazer que senti ontem, a sensação de liberdade me confundem. Se eu soubesse teria desistido da garota? Teria deixado minhas vontades de lado e ido embora do bar?

Como se soubesse o que eu estou pensando Marcos solta uma risada triste. 

“E normal sentir dúvidas sobre o que você teria feito ou não, lobos são criaturas instintivas, e essa mistura de emoções nos fazem querer mais da vida” 

Ele encosta a cabeça na parede e fecha os olhos.

“E quase como uma droga, você sempre vai querer mais, provar mais, sentir mais”

Ele se vira para mim me olhando, observando a cama.

“Mas não é bom se deixar levar sempre ou você pode acabar como ela” ele me fala atentamente “um animal que não tem mais um pingo de responsabilidade, que não sente culpa pelas atrocidades que faz” 

Ele se levanta e antes que eu possa dizer algo alguém bate na porta.

Estão aqui para limpar a minha bagunça.


Família.

Minha mãe chora na frente do meu caixão vazio.

De onde estou observo meu irmão consolar ela. Algumas outras pessoas tentam falar com ela, mas desistem quando ela não responde.

Seguro dentro de mim a vontade de ir até eles, de contar que estou vivo.

Que estou bem.

A mãe de Tom se aproxima e elas se abraçam, a culpa me consome ao ver essa cena, me fazendo lembrar daquela noite.

Dos corpos dos meus amigos, da cabeça de Tom na cabana.

Do momento em que devorei ele.

Das risadas daquela mulher ao me ver em Pânico pelo que fiz.

Do outro lado do cemitério vejo a loba branca observando tudo. Alguns dos outros, em suas formas humanas estão caminhando pelo cemitério me vigiando.

Esse foi nosso acordo, eu poderia ver minha família mas não falar com eles.

Porque eu morri naquele “acidente” na mata.

A fera de mim uiva com raiva pela situação, a mistura de sentimentos faz com que eu quase perca meu frágil equilíbrio.

Saio do cemitério antes que a vontade de ir até minha mãe vença, ouço seu choro desesperado à medida que o padre começa o enterro, e acelero o passo.

Sempre sentindo os olhares deles sobre mim, principalmente o Dela. Engolindo minha raiva juro para mim mesmo me vingar do que ela fez.

Do que ela me transformou.

Paro no portão do cemitério e olho para ela, olhos para os outros e juro que a vadia nunca vai me controlar e que quando ela menos esperar vou matá-la lentamente com minhas próprias mãos. 


Influência.

Aos poucos, a influência que ela tem sobre mim acaba, à medida que o tempo passa, que aceito quem sou, meu lobo se fortalece. 

Seu olhar, agora, está sempre sobre mim. Ela sabe que não tem mais poder sobre quem me tornei. 

Às vezes, no meio da noite, ouço seus sussurros em minha mente; as imagens de suas noites sangrentas preenchem meus sonhos. 

Me excitam a tal ponto que minha fome fica insuportável.

Mas o domínio do meu corpo é só meu. 

Sua raiva é palpável e a cada lua, seu lobo se descontrola. 

Ela está perdendo a razão, perdendo seu controle sobre nós e sabe disso! Ela sente o que sentimos, vê o que vemos. 

A cada lua cheia. 

Em cada caçada. 

A cada noite. 

Nós éramos únicos, uma alcateia unida pelo seu sangue, por sua carne, pelo menos até agora...


Fome. 

Ela tem um cheiro delicioso. 

Da minha mesa observo seus movimentos, elegantemente ela corta a carne em seu prato fazendo o cheiro se espalhar pelo restaurante.

À medida que a lua ficava cheia, meus sentidos se aguçam, os cheiros ficam mais claros, as cores mais fortes, foi por isso que a encontrei.

Faltam dois dias para a lua cheia.

Sozinha naquele restaurante barato seu cheiro se destacava sobre os outros.

Fico ali sentado olhando pra ela, imagino minhas presas em sua pele branca, seu sangue quente que escore em minha boca, os barulhos que sua carne fará ao ser despedaçada por mim.

Sinto seu gosto. 

Seu sabor.

A fome que sinto aumenta à medida que penso em como devorar aquela carne. 

Pedaço por pedaço. 

Até que não sobre nada além de uma carcaça sem valor.

Deixo que minhas emoções fluírem, sinto o momento em que Ela sente minha excitação. A minha fome.  O garçom toca meu ombro de leve me tirando do transe em que estava.

Rosno pra ele com raiva até me lembrar onde estou. Com medo ele dá um passo para trás me perguntando se preciso de algo mais.

Tento sorrir soltando o que restou da garrafa de água que segurava.

Respondo que não saindo daquele lugar no momento em que ela sai. Sigo ela de longe imaginando o momento em que vamos nos ver novamente.

Faltam dois dias. 

E eu finalmente achei o que procurava.


Regras.

A segui até em casa. 

Aqui seu cheiro está em todos os lugares, de onde estou a observo se mover pela casa através das janelas. Algo dentro de mim anseia pelo momento em que finalmente a terei. 

Salivando penso em que gosto ela vai ter, imagino o momento em que minhas garras irão afundar em seu corpo frágil. 

Consigo sentir seu sangue quente em meu corpo, a imagem de sua carne sendo rasgada em pedaços me excita.

“Tentador não é” a mulher albina sussurra em meus ouvidos, estava tão concentrado que não a ouvi, não senti sua aproximação.

“O cheiro, o pensamento de como será devora-la lentamente, a excitação da caça” seus sussurros me traem a mente o momento em que cacei pela primeira vez.

Minha primeira lua.

Meu melhor amigo Tom.

Ela envolve seus braços em volta de mim e sorri olhando a moça pela janela.

“Sei o que você está sentindo, o que você está provando” ela afunda suas garras em minha pele fazendo sangue escorrer em meu braço.

A dor faz eu me acalmar. 

“Não caçamos na cidade” ela beija minha bochecha, me olha seriamente e diz “seja bonzinho! Não me obrigue a te fazer mal” 

Silenciosamente, saio a deixando na frente daquela casa. 

Falta pouco, muito pouco.


Você.

Seu vestido outrora sempre perfeito está sujo, rasgado em várias partes, manchado com o sangue de algum coitado que cruzou seu caminho.

O cheiro da confusão emana de todo seu corpo.

Muitos lobos da alcateia tiveram que quebrar o elo que unia eles a você, sua loucura é contagiante.

Eu me mantive forte, meu lobo se diverte com suas emoções abaladas, e é quase prazeroso ver o que você está se tornando. 

Ver o que ajudei a criar.

Observo você sussurrando algo para o nada a sua frente, Marcus, assim como os outros não entende como você adoeceu.

Nós não adoecemos fácil.

Sorrindo silenciosamente me lembro da garota que fingi caçar, do seu cheiro doentio. Você estava tão concentrada em mim que não viu os sinais da doença nela.

Não reparou que em nenhum momento ela bebeu algo naquele bar. Não viu seus passos estranhos ao voltar para casa.

Nem seus devaneios.

Você queria ela porque eu queria.

Você a caçou, devorou, rasgou sua carne em pedaços enquanto eu observava de longe.

Você não seguiu as regras e agora paga as consequências.

Eu nunca conseguiria matar você em sua melhor forma.

O que são séculos contra meus 20 anos? 

Mas agora... Você está vulnerável.

Doente.

E a cada dia que passa a raiva e a loucura tomam conta de você.

Deixo as lembranças daquela noite fluírem em meus pensamentos, você me olha, e em um momento de lucidez ri.

Uma risada alta e bonita.

Você entendeu o que fiz.

Viu em minhas lembranças o momento em que eu soube, o momento em que pensei em tudo. O momento em que entendi que a menina estava doente.

Ela tinha raiva.

Uma das poucas coisas que podem nos contagiar.

Começo a rir também deixando os outros confusos e amedrontados.

Você não vai durar muito.


Seu fim.

Ela sabia, por mais que a loucura e a raiva tenham tomado conta dela, ela sabia.

Seu domínio sobre sua besta é notável, ela não o deixou sair.

A lua sobre nós nos chama, ouço os outros, seus gritos cortam a noite, eu também estou no meu limite.

Mas você caminha lentamente, rindo sozinha, tirando suas roupas e as jogando pelo caminho.

Vejo Marcus observando tudo com olhos marejados, ele odeia e ama você, assim como todos os outros. Ela para debaixo do luar, tiro minhas roupas esperando o momento certo, os outros, se mantém longe.

Todos sabem o que vai acontecer.

Assim como você.

Sua transformação foi mais dolorosa que o normal, nunca tinha ouvido seus gritos antes, penosamente seu lobo luta para sair, arrancando sua pele entre risadas e dor.

Marcus tenta se aproximar, parar seu sofrimento mas uso a voz com ele.

“NÃO!” ele para surpreso por eu ter usado isso, poucos conseguem.

“Pare o sofrimento dela” ele apela para um lado meu que já morreu.

“Não” repito ouvindo os uivos de uma alcateia indignada.

Me aproximo dela deixando que meu lobo saia, ela nunca tirou seus olhos de mim.

Você nunca apelou por misericórdia, em nenhum momento pediu para aliviar sua dor.

Você aceitou tudo e por mais louco que soasse me olhou quase que com orgulho.

Deixo meu lobo sair sem gritar, aceitei a dor, arranquei uma pele que não era mais minha.

Aceitei o que sou e quando ela terminou a ataquei.

Fraca ela revidou e lutou, mas não era mais como antes, seu controle, seus movimentos, sua racionalidade, tudo nela está doente.

Luto com unhas e dentes evitando seu sangue, não posso devorar sua carne mas posso deixa-la em pedaços. Os outros, silenciosos, observam tudo. O lobo de Marcus é o único que se aproxima, ansioso.

Mesmo doente, você lutou bem, me deixou machucado, mas não foi o suficiente. Com minhas garras consigo te ferir mortalmente, seu lobo exausto cai iniciando sua troca de pele mas paro o processo. 

Ela vai morrer como viveu! Selvagem e indomável, volto a minha pele ouvindo seus sussurros em minha mente.

Nunca quebrei nosso elo, não como os outros.

“Você...lutou..bem garotinho” 

Observo seu corpo morrendo, enquanto uivos raivosos e tristes invadem o silêncio. Choro pela sua morte, mesmo te odiando eu amei você durante todos esses anos.


Filhos da lua.

Sinto a terra debaixo de mim. A lua ilumina as árvores formando pequenos feixes de luz. Respiro sentindo o frio da noite, silenciosamente observo minha presa que pasta tranquila, posso sentir seu cheiro de onde estou, ouvindo seu coração bater minha fome se faz presente. 

Silenciosamente me aproximo dela, percebo a presença de meus irmãos envolta de mim.

Mas essa caça é minha.

Eles observam eu me aproximar, o pequeno cervo alheio ao que está a sua volta se alimenta de algumas folhas debaixo de uma das árvores. 

A lua ilumina seu pequeno corpo cheio de vida. Com um pequeno rosnado faço com que ela note minha presença, meus irmãos se agitam entre as árvores, o pequeno cervo corre assustado e eu o sigo animado.

Adrenalina corre entre meu corpo, enquanto me aproximo dele, ela fede a medo agora. 

Um cheiro que me faz correr mais rápido, que me estimula a pegá-lo, até consigo sentir minhas presas afundando em seu pequeno corpo, imagino sua pequena vida se extinguir em minhas mãos.

Cansado o cervo tenta correr mais rápido, uivando espero pelo momento certo.  Seu pavor está quase palpável, me aproximo rapidamente e sem que ele tenha uma chance se quer salto prendendo seu corpo exausto na terra molhada.

Rosnando me aproximo de seu corpo que treme, ele se move lentamente mas minhas garras afundam em sua pele fazendo com que ele solte um gemido de dor.

Ouço meus irmãos envolta de nós, uivando em expectativa.

Uma chuva fina se mistura ao seu sangue na terra.

Afundo minhas garras sentindo o calor de sua pequena vida indo embora. Seus olhos refletem o medo que ele sente, apavorado pelo que está por vir e antes que sua luz se apague afundo meus dentes em sua garganta terminando seu sofrimento. 

Sujo com seu sangue e ainda sentindo aquela adrenalina, a liberdade que só essa forma me trás uivo a lua chamando meus irmão. 

Vamos comer.

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